sexta-feira, 5 de julho de 2019

7 em cada 10 paulistanos são contra porte de armas, diz Ibope/Nossa SP.


Manuela Rached
Colaboração para o UOL, em São Paulo
04/07/2019 10h00
Sete em cada dez moradores da cidade de São Paulo são contrários ao porte e à flexibilização da posse de armas de fogo, segundo pesquisa divulgada hoje pelo Ibope em parceria com a Rede Nossa São Paulo. A rejeição às armas ocorre mesmo com a percepção --compartilhada por 76% dos paulistanos-- de que a violência no município aumentou no último ano.

O levantamento, realizado em abril na capital paulista, mostra que 73% são contrários à flexibilização do porte (73%) e 68% se colocam contra a posse (68%) de armamentos. Os favoráveis representam 22% e 27%, respectivamente. 5% não souberam ou não responderam a ambos os casos. O direito à posse é a autorização para manter uma arma de fogo em casa ou no local de trabalho. Para andar armado na rua, é preciso ter o porte autorizado.

A resposta dos moradores da capital paulista está alinhada à avaliação dos demais brasileiros. Apesar de representarem a parcela que se sente mais segura nos bairros onde reside, moradores do centro e da região oeste são os mais favoráveis ao porte e à posse de armas de fogo pela população. Nas demais regiões, o cenário é invertido.

Enquanto 38% dos entrevistados do centro e 30% da zona oeste se dizem a favor da flexibilização da posse de armas, nas regiões sul, leste e norte o número cai para 22%, 27% e 28%, respectivamente.

Quando considerado o sexo dos respondentes, 80% das mulheres declaram ser contra porte -o índice entre os homens é significativamente menor, apesar de ainda representar maioria: 64%.

Para o coordenador da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, as divergências de opinião refletem um cenário urbano onde, entre populações "mais desassistidas", há um maior entendimento de que problemas de segurança pública, "diariamente vivenciados por elas", não poderiam ser resolvidos com soluções individuais. "A redução dessa tendência em espaços mais periféricos tem a ver com uma noção mais coletiva, enquanto os lugares de melhor renda tendem a raciocinar de maneira um pouco mais individual", avalia.

De acordo com Bruno Langeani, advogado e gerente do Instituto Sou da Paz, o armamento da população passa por uma discussão "que joga a responsabilidade pela segurança pública nas costas da população" e tem sua efetividade questionada por diversos estudos científicos nacionais e internacionais. O instituto se posiciona contra os decretos de armas publicados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

"Além de ter uma validade questionável em termos de efetividade, para comprar uma arma e passar em todos os exames, o custo mesmo para uma arma usada é de R$ 5.000 a R$ 6.000. Então, quando olhamos pra um cenário brasileiro de economia em crise, com milhões de desempregados, essa periferia sabe que essa possibilidade [do direito à posse e ao porte de armas] não está colocada pra eles por conta da questão da renda e a gente também pode argumentar que essa população é a que está mais exposta à violência letal", analisa Langeani.

Ainda sobre o contexto específico de São Paulo, o advogado argumenta: "Mesmo havendo uma redução dos homicídios no estado, a gente vê que os bairros periféricos e mais pobres são os que mais estão vulneráveis a crimes contra a vida, e, por vivenciarem isso diariamente, eles sabem que arma não traz proteção. Pelo contrário, traz mais riscos de terminar em uma tragédia".

Agenda para o Congresso Ainda que São Paulo tenha servido de base eleitoral ao presidente Jair Bolsonaro, eleito com promessas de facilitar o direito ao porte e à posse de armas de fogo, Langeani avalia que sua eleição não representa adesão integral pela maioria da população à agenda de Bolsonaro.

"O próprio presidente se confunde bastante nisso, porque o fato de ter sido democraticamente eleito e na sua campanha ter usado a questão da arma como uma plataforma forte, não quer dizer que todo mundo que optou por esse presidente está fechado com sua agenda completa" avalia Langeani, do Sou da Paz, que indica também que pesquisas como a divulgada hoje permitem que haja diálogos com o Congresso. Para a pesquisa, o Ibope e a Rede Nossa São Paulo ouviram 800 pessoas na capital paulista entre os dias 3 e 23 de abril. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

FONTE- NOTÍCIA.UOL.COM.BR


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